domingo, 27 de janeiro de 2019

Refletindo sobre mérito e recompensa...


Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra.
Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dele, perguntou: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude! "
Respondeu o Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas;
todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada".
Lucas 10:39-42

Sei que este é um texto usado demasiadamente com frequência, mas ao mesmo tempo é tão rico em aspectos que, me permitam, usarei como ponto de partida para nossa reflexão, afinal, ele apresenta os dois aspectos de nossa cultura que pensaremos hoje.
Marta estava ocupada com suas obrigações; e ninguém discorda que ela estava fazendo o que tinha que fazer. Cumprindo aquilo que (quase) todos esperavam dela. Enquanto Marta olhava para si mesma e acreditava estar fazendo o correto, gerou em si justiça própria ao ponto de olhar para Maria e condena-la. Ela queria elogios dos que estavam presentes, queria que todos percebessem o que estava fazendo e então chama a atenção de Jesus buscando aprovação para sua justiça própria. E não apenas isso, ela queria condenação para Maria. Mérito.

Maria, entretanto, não se preocupou com suas obrigações, não se importou com o que estavam pensando dela. Afinal o Mestre estava presente e toda a sua vida estava rendida à sua presença. Ela olhava para Jesus e para o que ela poderia obter estando aos seus pés. Maria escolheu a melhor parte, que não podia ser tirada de seu coração, e essa parte lhe daria algo que ela jamais alcançaria por si mesma: recompensa. E a recompensa em seu espírito foi tão absurda que posteriormente ela eleva a sua adoração a Jesus não só estando aos seus pés, mas derramando o perfume, algo de grande valor que possuía, para honrar o Seu amado. Reconhecimento.

A nossa mente (cultura) tem uma grande dificuldade em compreender a diferença entre meritocracia e recompensa. Temos a predisposição em pensar que elas são a mesma coisa, mas não são.
Segundo o significado das palavras, meritocracia é fundamentada no mérito pessoal, e funciona em um sistema organizado predominante em sociedade onde cada um recebe segundo a sua dedicação, conhecimento e empenho.
Já a primeira palavra que define recompensa é favor. E sua estrutura é em cima de reconhecimento, que gera uma retribuição ou premio, como compensação daquilo que você faz.

O dicionário nos ajuda a entender o sentido das palavras no âmbito natural, e já nos mostra a diferença entre as duas. E quando aplicamos isso ao espiritual, fica ainda mais potencializado o padrão bíblico da diferença entre elas.
Uma (mérito) olha para si mesmo: eu tenho, eu faço, então recebo. A outra (recompensa) é vista pelos outros: eu me dou, e alguém reconhece o que faço. Eu não faço para ter, faço porque já tenho algo, já é meu, eu já possuo. Jesus já gerou (através da cruz) e nos entregou tudo.

Se os homens recebem o que merecem, isso é aceitável em nossa mente. Mas quando alguém não recebe segundo as suas obras, gera discussões sem fim, há gerações.
A bíblia nos desafia a transformar nossa mente, pois na nova aliança o que recebemos, não recebemos por nossos atos, nem por mérito nem ainda por recompensa nossa. A recompensa que recebemos tem a ver com o que Cristo consumou na cruz por nós, com o que Ele nos entregou de graça, e o fruto a respeito do que Cristo fez e gerou em nós, cria um mecanismo de reconhecimento e recompensa, que para homens carnais é visto como mérito, mas não se trata disso.

A igreja imatura relaciona a cruz apenas com o perdão do pecado, sendo assim ela se move tentando fazer alguma coisa para ter algo mais. Ela busca atenção e aprovação de Deus na esperança de méritos que comprovem que ela está fazendo a coisa certa. Porém já recebemos muito mais que perdão de pecados! Tudo já está consumado! Tudo já nos foi dado! Não podemos fazer mais nada para ter aquilo que Jesus já conquistou por nós! Agora nossos atos são gerados pela obra inteira da cruz e então a igreja madura se move nisso e é recompensada, não pelos seus atos, mas pelo que a cruz gera em si mesma.

Talvez a idéia de mérito te agrade mais que a recompensa. Talvez você tenha orgulho de sua justiça própria! Talvez os elogios, os bens, a igreja, a família e a vida que você está construindo com suas próprias mãos lhe bastam. Mas se forem construídos com madeira, feno e palha (1Coríntios 3:12), ainda que em cima do alicerce correto, se queimará e não servirá de nada.

Mas se você (e eu) reconhecer(mos) que o que Jesus conquistou na cruz é eterno, e que a sua recompensa gera frutos em nós e através de nós no Reino que virá e já nesta era, então nos moveremos na obra já consumada e desfrutaremos da eternidade aqui e agora. Mas isso só é possível quando abrimos mão de nossa justiça própria, e entendemos que a justiça do Pai é perfeita em Seu amor. E que não se trata mais de nossas convicções, mas da recompensa gerada pela graça!

Reconhecer quem Jesus é, reconhece-lo nas pessoas, reconhecer sua obra, se mover na graça e pela graça: é uma chave que gera recompensas, já o mérito é um sistema que gera justiça própria. Enquanto a recompensa de Deus é para um proposito coletivo e eterno, o mérito busca um proposito egoísta e momentâneo. E se aquilo que Jesus nos dá de graça é melhor que tudo, nosso mérito serve apenas para nos fazer rejeitar a bondade e o amor do Pai.

O que faz mais sentido para você (para seu espírito): passar a vida perseguindo aquilo que acredita merecer, ou simplesmente receber de graça tudo que não merece? Continuar a depender dos próprios méritos ou se entregar ao favor soberano do Pai? Gastar seu tempo chamando a atenção de Deus e sua aprovação, ou desfrutar da posição de filho rendido à Sua presença? Quanto a mim o que faz mais sentido é que toda expectativa gerada em mim ou nos outros traz frustração, mas toda expectativa gerada no Pai traz surpresa e completude.