segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Refletindo sobre Igrejeiros e Cristãos...

O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.
(João 15:12-15)

Igreja é relacionamento. Não há outra razão para a igreja local de Cristo existir. A fé e a salvação são individuais. Ninguém é digno de santificar outrem, ou de prestar contas em seu lugar diante de Deus. Não podemos aceitar a Cristo como Senhor e Salvador pelos nossos filhos ou pais. Sendo assim a igreja local é a reunião de cristãos, cheios de fé, que compartilham suas experiências, dor, dificuldades e vitórias.

O dicionário Aurélio define “relacionar” como “adquirir amizades”; e “amizade” como “sentimento fiel de afeição, estima ou ternura entre pessoas que em geral não são parentes nem amantes”, e ainda “amigo” como “companheiro, protetor”.

Para mim relacionamento é troca. Você dá e recebe. Ensina e aprende. Chora e sorri. E principalmente aprende a viver com todos os tipos de diferenças. Uma amizade torna-se cada vez mais verdadeira e profunda quando um aprende com o outro. Para mim quando Cristo declarou “mas tenho-vos chamado amigos” ele mostrou que seu relacionamento conosco vai alem de mestre e aluno, e também queria nos ensinar como deveria ser nossos relacionamentos.

Sendo assim fico refletindo que tipo de relacionamento temos hoje em nossas igrejas. Serão eles apenas superficiais, ou verdadeiros? São relacionamentos de “eu te amo” durante o culto, ou de convivência diária? Podemos chamar nossos irmãos da igreja de amigos, ou seriam eles apenas membros da mesma igreja? Sei que são perguntas fortes, mas o pior são as respostas que teremos se realmente as buscarmos.

Jesus é nosso melhor amigo. Nosso companheiro e protetor. E nós, o que somos uns dos outros? Gostaria que refletíssemos juntos sobre essas questões. Não no intuito de acusar, mas de nos trazer a realidade de nossa concepção de amizade, de como aprendemos a agir, e o quanto podemos mudar e melhorar. Toda mudança de pensamento é difícil, mas é ainda mais difícil mudar nossas atitudes. Precisamos fazê-las. Se queremos uma igreja forte e que exerce o verdadeiro cristianismo, precisamos entender que cabe a cada um de nós fazer valer o cristianismo aqui na terra.

Eu sou cristã. Você é cristão. Devemos, então, nos relacionarmos e sermos amigos. Não somente eu e você. Mas com todos. Independente da igreja em que congrega, da posição teológica, ou ate mesmo da segmentação religiosa que cada um escolhe. Devemos andar na contramão do mundo. Mas o mundo tem descoberto melhores amizades do que a igreja. O mundo tem compartilhado “sentimento fiel de afeição, estima ou ternura entre pessoas que em geral não são parentes nem amantes”, muito mais do que a igreja.

A igreja em células poderia representar bem essa amizade. Mas a partir do momento que ela centraliza a importância em apenas um grupo (o “meu” grupo) e toma posse das pessoas, e não amplia as amizades e vínculos, ela também não está exercendo cristianismo. Esta sendo apenas igrejeira. Porque o que temos em nossas igrejas são igrejeiros e não cristãos. Igrejeiros não tem visão de Reino. Igrejeiros se preocupam mais com status hierárquico, do com a amizade. Igrejeiros priorizam a denominação em detrimento do ser individual.

Os igrejeiros se relacionam apenas enquanto compartilham da mesma denominação local. Se abraçam, sorriem, dizem que são importantes uns para os outros, mas se o irmão parar de congregar ali, já não se falam mais, já não sabem o que fazem, e o caso se torna ainda pior quando passam a falar mal e a inventar fofocas só porque a pessoa não faz mais parte do “clube”. Mas o que mais me choca é quando o igrejeiro nem percebe a ausência de um irmão que simplesmente deixou de estar presente. Quanto vale uma vida? Qual a importância de um filho para o Pai? Temos nos preocupado com isso?

Sendo que na realidade quando alguém rompe com alguma denominação, está rompendo com o sistema religioso local e não com as pessoas. As pessoas são a igreja, uma unica família. Fazemos parte do mesmo corpo de Cristo, independente da congregação. Portanto isso não deveria fazer a menor diferença. Temos um só Pai, um só irmão, um só Espírito que nos guia. Os laços não deveriam ser rompidos, pois nossa ligação ao Sangue de Cristo permanece a mesma. Igrejeiros não agem como irmãos. Mas os cristãos seguem pelo mesmo caminho até a morte.

Não podemos ser igrejeiros. Devemos ser cristãos. Valorizar o ser integral. Aprender a nos relacionar com todos. Amar e se deixar ser amado. Um cristão que não se relaciona intimamente com outras pessoas, principalmente em sua igreja local, está com problemas em sua crença. Cristo se relacionou o tempo todo. Estreitou laços. Participou dos problemas de seus amigos, fez o que pode para ajuda-los. E por fim entregou sua própria vida para que seus amigos vivessem.

È importante ratificar, que amizade é uma via de mão dupla. Deve haver um interesse das duas partes. Mas é aí que devemos nos avaliar. Se nos importamos com as pessoas. Se nos deixamos aproximar-se delas, ou se apenas conhece-las superficialmente está bom. Não estou me referindo ao amor, este assunto é um ótimo tema para outra reflexão. Estou me referindo ao quanto é importante para nós nos relacionarmos em amizade uns com os outros. E o quanto a amizade pode mudar a vida de uma pessoa. E melhor ainda, como uma amizade pode mudar a sua e a minha vida.

Eu avaliei meus atos. Fiquei entristecida de saber que muitas vezes fui igrejeira. Espero que você também possa identificar se for um. E mudar. Priorizar pessoas e não instituições. Se interessar pela essência de cada um, e não apenas por números que norteiam a instituição. Ser amigo de um, e transformar esta vida, do que ser conhecido de muitos e não fazer a diferença na vida de nenhuma delas. O cristianismo é relacionamento. E relacionamento verdadeiro. Só assim, quando nos dispusermos a ser amigos, estaremos semeando o fruto que permanece.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Eu não quero perder a visão...

Estando eu ainda em São Paulo, consegui assistir à programação da minha - anteriormente - igreja favorita. E comecei a refletir sobre como eu sempre gostei muito deles. A bispa desta igreja sempre foi um referencial de mulher de Deus para mim. Seu testemunho, sabedoria, a forma como expressa a palavra de Deus, com amor e paixão. Suas canções sempre tão profundas e cheias de experiências com Deus. Não foi à toa que eles chegaram aonde chegaram. A história mostra um desligamento com a religiosidade, uma preocupação com a edificação dos jovens, um amor pela obra verdadeira de misericórdia e compaixão.

Olho para trás e entendo porque sempre gostei deles. Mesmo que eu nunca tenha congregado lá, desde da época que me converti e fui aprisionada em dogmas (locais e não universais) e religiosidade, eu ficava encantada com eles. A música despojada e eclética, as tatuagens e cabelos masculinos compridos, a ceia que não era imposta apenas a alguns privilegiados... Isso tudo tem um pouco do que tenho avaliado na atualidade. Além da impactante direção nas obras sociais e com usuários de drogas. A busca pelo relacionamento como “carro chefe” da igreja. Essa é a igreja com a qual sonho em congregar hoje.

Mas minha preocupação é perder o foco no caminho... E passar a priorizar bênçãos materiais e milagres financeiros e gastar, mensalmente, milhões com rede de TV e rádio. Hoje eu tenho a nítida visão de que Jesus não quer nos dar casas e carros, que ele não se preocupou com a vida material e também não quer que nos preocupemos com isso... “Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes” (Lc 12:23)... Isso é mais claro do que a água para mim. Que o ser humano, a família, o relacionamento com Deus e com o próximo é mais valioso do que qualquer riqueza que eu possa adquirir com meu trabalho e esforço.

A idéia de redes de TV e radio não é herética, e sabemos que acaba alcançando algumas pessoas. Sim algumas. Não muitas. Porque o que importa são os frutos que permanecem. E hoje os frutos que permanecem são aqueles que são ganhos para Cristo através de relacionamento e testemunho de vida. E a TV e o rádio não proporcionam essa proximidade. Acredito que alguns são ganhos através desses canais. Mas hoje eu compreendo que se esses milhões de reais fossem investidos em irmãos sedentos por se preparar para o campo missionário, e em trabalhos efetivos de evangelização a longo prazo, alcançaríamos muito mais nações e povos através do relacionamento interpessoal.

Quando as pessoas me chamam de pastora, me arrepio até a espinha. Porque se ser consagrado a pastor me levar a um caminho de cegueira e obsessão por números, como se igreja lotada significasse alguma coisa, se me fizer ter uma vida solitária e de aparência por não poder mostrar quem realmente sou, se me fizer clamar durante 30 minutos para que os fieis ofertem, utilizando de abalo emocional para que venham despejar cada vez mais dinheiro diante do “altar”, ou me fizerem burlar a lei e esconder dinheiro como se isso fosse a coisa mais normal do mundo... Eu vos afirmo: eu prefiro ser quem sou.

Uma faminta pelo evangelho verdadeiro. Uma sedenta pelo resgate da igreja verdadeira. Uma apaixonada pelo verdadeiro cristianismo. Uma sonhadora, que tem medo de avançar e perder o foco. Que está paralisada no tempo, com receio de seguir em frente e perder a visão mais maravilhosa que já possuiu: a de Cristo clamando por verdadeiros adoradores. Minha vida não tem sentido sem Cristo, sem o que realmente importa para Ele. Ele é o meu amado, meu Senhor e Mestre. Meu Pai e meu Rei. Tenho medo. Não quero perder a visão e usar o nome dele em vão.

Às vezes me sinto sozinha neste mundo. Às vezes encontro alguns irmãos que chamo de “insatisfeitos” como eu. Mas às vezes procuro e não encontro, um pastor que realmente se preocupe em agradar a Cristo, mesmo que isso signifique manter por toda a vida uma igreja que não passe de 50 membros... um cristão que não se contamine com o contrabando de produtos piratas... um irmão que está sofrendo e recebe visitas de seu pastor e dos irmãos da igreja em que congrega... Não vejo... não enxergo...

Mas o que posso fazer? Olhar para mim. Para meu ser insignificante. Para minha natureza pecaminosa. E saber que se eu vacilar, meus olhos irão se fechar, e eu posso começar a viver tudo que tenho repudiado hoje. Posso confiar em Deus e depender dele em todo o tempo. Esperar e acreditar que Ele sempre esteve, está e sempre estará no controle de tudo. Como criança me entregar. E ungir meus olhos com colírio para que eu veja (Ap 3:18) e jamais perca a visão.

É importante dizer que eu não escrevo sermões... mas apenas reflexões...